Rio Doce e a degradação ambiental.

Talvez que por já ter tido a experiência de viver fora do Brasil por longo tempo. – Vivi 5 anos fora da terrinha e longe de tudo e de todos que conhecia e gostava. - Um tempo extremamente enriquecedor não só para desenvolver minha cultura como para me conhecer melhor. Dentre as muitas coisas que descobri nesse período foi que tenho realmente um grande amor a minha terra. Esse sentimento associado ao meu prazer em aprender biologia acabou desenvolvendo minha paixão pela ecologia e pelas questões do meio ambiente.
Quando voltei do exterior pus me a viajar pelo país em cada oportunidade que tive. Acabei conhecendo quase que todo o Brasil e o meu Estado, o Espírito Santo acabei conhecendo por inteiro. Só que infelizmente, junto com o prazer das viagens veio à constatação da degradação do nosso território. São imensas paisagens tristes de campos desmatados e secos. Rios que um dia eram caudalosos hoje só existem como pequenos fios de água e em alguns lugares e períodos apenas figuram nos mapas. Tristemente percebo a falta que faz alguém do quilate do nosso mais celebre ambientalista e grande defensor do meio ambiente, o Professor Augusto Ruschi. Imagino que saber de nossa inércia diante de tudo que tem acontecido ele deve estar se revirando no tumulo. - Nos anos 70 ele já denunciava o desmatamento e promovia verdadeiras campanhas de prevenção e proteção as nossas matas e alertava constantemente sob os riscos do desmatamento. 
Conheço muito bem a região do Rio Doce. Principalmente da parte da cidade de Governador Valadares no Estado de MG para baixo. Ou seja, no sentido da foz do Rio Doce em Linhares, ES. Nos anos 80 frequentei muito aquelas praias. Tenho na memória lembranças de viagens e momentos maravilhosos que passei por aquela área. Gostava muito de passear por Regência e Povoação. Até hoje tenho amigos daqueles tempos. Nos últimos tempos me voltei mais para o interior do Estado. Um grande prazer que tenho é o de viajar pela estrada entre Colatina e Baixo Guandu na região noroeste. Em alguns trechos têm-se belas visões do Rio Doce. Depois circundar pela região Serrana passando pelo Vale do Canaã.
Foi com um enorme aperto no coração que me preparei para viajar para a região noroeste no ultimo fim de semana. Desde que aconteceu a ruptura da barragem que tenho buscado todas as informações e visto muitas fotos e vídeos, mas sabia que ao vivo seria ainda mais difícil. Chegando a Colatina as primeiras visões do que outrora era um rio assoreado, mas ainda assim com águas claras e bonitas. Que tristeza. As lagrimas desciam e eu não conseguia me controlar. Tinha receio que alguém pudesse perceber que eu estava chorando, afinal sou um Médico muito conhecido, o que poderiam pensar? Que nada a dor da tristeza foi maior que a razão e tive foi muita dificuldade para conter as lagrimas. Em completo silencio, um pensamento me dominava: Deus do Céu, a estupidez que impera em nossa cultura é surreal. 
O pior é que a aparência do rio com a suas águas cor de lama, nos muitos pontos de desmatamento, acabou por realçar ainda mais a gravidade da depredação ambiental. É como se a terra tivesse ficado ainda mais árida. –Vejam foto abaixo.
Pela minha formação Médica aprendi que em “situações epidêmicas”, sempre tem que se tentar ver uma centelha de vida e vislumbrar tratamentos, assim, após a constatação do realce da aridez da terra, passei a observar o impacto dessas águas envenenadas no ambiente ao redor.
Comecei a fotografar as matas ao longo do rio. Tentar entender e acompanhar o que vai acontecer com a vida natural. Colocar as nossas esperanças no desejo que se adaptem e resistam. Em Baixo Guandu vi arvores frutíferas bem carregadas na beira do rio. Essas frutas precisam ser analisadas e acompanhadas. – Por sorte aquele Município tem um Prefeito que tem se mostrado consciente, atuante e competente.
Procurando pensar sob todos os ângulos na dimensão dessa situação, visto que ainda não desenvolvemos em nossa cultura a capacidade de prevenir e muito menos de lidar com situações catastróficas, haja visto que levou mais de uma semana para a lama chegar ao mar e nesse tempo todo, tudo o que vimos foi a imprensa mostrando o avanço diário, mas não foi realizado absolutamente nenhum esforço para se tentar desviar esse trajeto da lama. Não se tentou nada, ainda que já se especulasse sobre o que seriam as consequências marítimas. Lembrando que oceanógrafos avisaram que essa lama poderia contaminar todo o litoral do país. Imagine só, afetar toda a cadeia alimentar marinha?!?
Agora já era. Só nos resta: 
-Torcer que essa catástrofe pelo menos tenha deixado algum aprendizado, (o que até aqui parece ser improvável). 
-Esperar que a comunidade cientifica consiga se mobilizar na busca de soluções. 
-Desejar que a sociedade se mobilize na exigência da punição de todos os responsáveis por essa situação. – Não me refiro a ir para a porta da empresa constranger funcionários que são apenas simples trabalhadores e que certamente não tem culpa nenhuma de decisões que são tomadas muito acima deles. Refiro-me exatamente aos poderosos responsáveis, que insanamente assumiram esse risco e aqueles diretores dos diversos órgãos públicos fiscalizadores tanto em nível Municipal quanto Estadual e Federal que se omitiram.
-Pedir a Deus que tenha clemência e milagrosamente torne menor esse quadro negro que está desenhado à frente.

0 Comentario "Rio Doce e a degradação ambiental."

Postar um comentário