Aparentemente surgiu nos últimos tempos uma “espécie de nova síndrome”, acho que podemos chamar de “Delírio do corpo fechado”.
Poderia ser descrito como: Mal que acomete pessoas que pilotam veículos automotores de duas rodas, popularmente conhecidos como motocicletas. Leva os indivíduos a esquecerem que em caso de acidentes, a “lataria” é seu próprio corpo. Assim, pilotam de forma insensata e impulsiva, cometendo todos os tipos de infrações possíveis. Abusam o tempo todo do improvável direito que muitos motoristas julgam ter de: de vez em quando “abusar um pouquinho” no transito.
As consequências desse insano comportamento surgem na forma dos acidentes de transito cotidianos, e o alto custo que está gerando para o estado, na forma de gastos com a saúde e aposentadorias precoces.
Para se falar nesta “síndrome”, vem a tona, outro ponto que tem sido pouco abordado, é que devido ao risco de se envolver em acidentes com os motoqueiros, somos forçados a dirigir de forma neurótica. Vigiando os lados do carro, principalmente o ponto cego (a parte de trás da lateral do lado do carona), pois a qualquer momento surge um motoqueiro saindo não se sabe de onde, fazendo uma ultrapassagem maluca, às vezes, inesperadamente, cruzando a frente do carro para entrar em uma rua lateral, e outras barbaridades tão bem conhecidas. Mais um ponto para estressar o cidadão comum - Lembrar sempre que os motoqueiros transitam sempre pelos corredores em velocidade desproporcional. Desse modo, para quem dirige, tornaram o simples ato de mudança de faixa, (sair de uma pista para outra), uma manobra de alto risco e consequente stress.
Tem sido dito que a maior vitima destas manobras insensatas, são eles mesmos. Só não podemos esquecer que quem se envolve no acidente (ou melhor, na maioria dos casos é envolvido), ganha também problemas inesperados.
Algumas estatísticas que andaram sendo publicadas informam que em geral a culpa é do motorista. Coisas do nosso país onde parece que muitas vezes devido ao fator emocional, o conceito irracional prevalece. (é o caso de testemunhas que se emocionam ao ver um motoqueiro arrebentado e se abstém de testemunhar de forma isenta).
Em épocas de festas como o carnaval, acontece o aumento do índice de motoqueiros acidentados nos pronto socorro. Alguém pode interpretar esta informação como casos de ingestão de bebidas alcoólicas dos pilotos, na verdade é dos motoristas, que bebendo como é comum e tradição destes eventos, sob o efeito do álcool diminuem os reflexos. Acabam ficando menos alertas para as “loucas manobras” dos motoqueiros que colidem e chegam ao Pronto Socorro, chorando e jurando que não beberam, mas que o motorista envolvido no acidente é que fez uma manobra inesperada. (mudança de faixa é um exemplo corriqueiro)*.
*Para não parecer implicancia, informo que também sou motoqueiro desde os tempos da faculdade.
Constatações obvias e sarcasmo a parte, vamos aos fatos.
Some a esta falta de consciência o fato de termos uma geração inteira que fez um péssimo ensino fundamental e hoje alem das dificuldades escolares, tem uma limitação para dirigir e se envolvem em muitos acidentes.
Iniciamos estudo no Instituto Maxluz sobre as causas desse comportamento e possíveis soluções. Não é preciso muito esforço para encontrar respostas para as estatísticas mais contundentes. Exemplo:
-60% das indenizações do DPVAT* em 2010 foram para acidentes com motos.
*Assegura todos os cidadãos brasileiros que foram vitimas de acidente de transito (seja ele motorista, passageiro e ou pedestre) dentre as categorias morte, invalidez permanente ou despesas de assistência médica e suplementares.
*Assegura todos os cidadãos brasileiros que foram vitimas de acidente de transito (seja ele motorista, passageiro e ou pedestre) dentre as categorias morte, invalidez permanente ou despesas de assistência médica e suplementares.
Começando por citar o sociólogo Alberto Almeida, autor do livro: “A cabeça do brasileiro” que disse: A escolaridade do Brasil é uma das piores do mundo. Quando tomamos as Américas, isso se aplica ao Brasil.
Então vamos citar algumas consequências dessa triste constatação do nosso baixo rendimento escolar e suas comprovações no transito, citando algumas falhas no desenvolvimento de importantes habilidades necessárias para dirigir e os equívocos para decidir que a baixa escolaridade produz no comportamento das pessoas, e neste caso interferem no modo de dirigir.
●Inteligência Espacial ou Visual – Capacidade de compreender o mundo visual e formar modelos mentais e operar com eles. - Importante para desenvolver a noção de distancia entre veículos.
●Inteligência Corporal-Cinestésica – Capacidade de coordenação motora utilizando o corpo inteiro ou parte dele.
●Inteligência Intrapessoal – É a capacidade de formar um conceito verídico sobre si mesmo, ou seja, o autoconhecimento. –
São habilidades que se fossem mais estimuladas, talvez que os motoqueiros, teriam maior pensamento critico e não seriam tão imprudentes em suas manobras. Entenderiam melhor que o ato de andar sobre duas rodas pode até ser um prazer, mas é perigoso. Não se deixariam tomar tão facilmente pela famosa “Síndrome da pressa” que acomete pessoas de cidades grandes, especialmente os motociclistas. Comportamento que acaba gerando ansiedade, impaciência e em alguns, hostilidade imotivada. Pode causar stress e como conseqüência: distúrbio do sono, de memória, irritabilidade, psico-somatização de doenças e consequente uso de remédios ou de álcool e outras drogas psicotrópicas para fugir da realidade. Aumentando assim a probabilidade de acidentes.
-Some-se a isto que a falta de planejamento das nossas cidades e os cada vez maiores problemas de “engarrafamento” no transito, tem feito com que as autoridades fechem os olhos para a questão do trafego das motos entre os carros. Nos Estados Unidos, é o veiculo do qual se tem que manter a maior distancia, e, os motociclistas tem que seguir rigidamente as leis comuns a todos.
Precisamos urgentemente partir para novos paradigmas de conduta. Visto que resolver a questão da baixa escolaridade demanda outros tipos de esforços, pelo menos algumas medidas podem ser orientadas. Como:
●Desenvolver a percepção de realidade através do contato direto com os acidentes. Todo motoqueiro para receber a carteira deveria fazer antes um estagio nos corredores dos hospitais de trauma e depois nas clinicas de reabilitação. Inclusive para renovar a carteira. - Esta recomendação se justifica pelo fato de que as pessoas têm dificuldade de aprender sem ver, tocar e sentir.
●O prazo de renovação para os mais afoitos que acumulassem multas, deveria ser anual e o aumento do valor das multas seria crescente. – Às vezes, só mexendo no bolso do individuo.
●Finalmente, recomendaria que se fizesse a pratica da meditação. Acredite, produz resultados extraordinários. Experimente!
Vicente Ramatis
Médico e autor do livro Armadilha Social.
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